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sexta-feira, 10 de janeiro de 2020

Incêndios florestais na Austrália geram intensas ‘tempestades de fogo’

Em 30 de dezembro de 2019, os incêndios florestais ardiam sob nuvens de fumaça, em Bairnsdale, na Austrália. Milhares de turistas deixaram a costa leste australiana castigada pelos incêndios antes que as condições se agravassem - FOTO DE GLEN MOREY, AP
Elas se formam a partir de redemoinhos de fumaça dos incêndios florestais que sobem para a atmosfera. No começo, são pequenos aglomerados de nuvens brancas, mas em apenas 30 minutos podem virar tempestades imponentes.

“Sem exageros, é difícil descrever como ficam escuros”, diz Nicholas McCarthy, cientista especialista em incêndios florestais da Universidade de Queensland, na Austrália, sobre os pirocúmulos (nuvens de fogo) produzidos por incêndios florestais de grande intensidade.

Esses fenômenos atmosféricos também são chamados de tempestades de fogo e podem agravar os incêndios porque geram ventos intensos, transportam brasas e levam raios para regiões ainda intactas.

Durante o infame incêndio de Carr, na Califórnia, em 2018, as tempestades de fogo passaram de 4,8 para mais de 11 quilômetros em apenas 15 minutos e originaram um tornado incandescente. Essas tempestades ígneas também foram vistas em locais assolados por graves incêndios florestais, como Portugal, Texas e Arizona.

Com o aquecimento do planeta, grandes incêndios estão se tornando mais frequentes e as temporadas de incêndios estão se prolongando. No último ano, a Austrália registrou sua primavera mais seca e ano mais quente e o país vem sofrendo com incêndios florestais cada vez mais perigosos. Cientistas dizem que as tempestades de fogo também podem aumentar, criando um círculo vicioso muito perigoso, ressecando ainda mais uma terra já seca.

Uma imagem por satélite da Nasa mostra fumaça e nuvens provenientes dos fortes incêndios na Austrália - FOTO DE JOSHUA STEVENS, NASA EARTH OBSERVATORY/LANDSAT
Como essas tempestades se formam
Pode ser difícil prever exatamente quando e como as tempestades de fogo vêm à tona, diz Mike Flannigan, professor especialista em incêndios florestais da Universidade de Alberta.

“São incrivelmente intensas e instáveis,” observa ele.

“Tudo que faz parte desses fenômenos está em seu estado mais crítico quando esses incêndios ocorrem”, diz David Fromm, especialista em pirocúmulos do Laboratório de Pesquisa Naval dos Estados Unidos.

As mesmas condições que podem levar a incêndios devastadores — ar seco e quente e vento intenso — também são as que têm mais probabilidade de formar tempestades de fogo.

Conforme o ar sobre um incêndio fica intensamente quente, ele cria uma rajada de vento para cima, chamada convecção ascendente, que canaliza a fumaça para a atmosfera, como uma chaminé. À medida que o ar sobe, ele se resfria e se condensa, formando nuvens. Quanto mais alto ele sobe, maior é a probabilidade de formar uma tempestade, diz Flannigan.

“Esses temporais criam seu próprio campo de vento porque têm uma convecção ascendente bastante violenta. É um ambiente muito turbulento”, conta ele.

Assim que se formam, os pirocúmulos se parecem com tempestades intensas, mas apresentam diferenças importantes. Tendem a produzir relâmpagos com cargas positivas, ao invés de negativas, que duram mais e dão mais tempo para que os raios incendeiem o solo ao atingi-lo. As tempestades de fogo também costumam ficar estagnadas, pairando sobre o incêndio que as formou. Por fim e, talvez, mais notável seja o fato de que é muito raro as tempestades de fogo formarem a precipitação tão necessária para combater os avassaladores incêndios.

“Praticamente não produzem nenhuma precipitação”, diz Fromm. Uma das ironias dos pirocúmulos é que, por serem formados pelo fogo, a geração de fumaça altera a microfísica a ponto de não permitir que a precipitação se forme”.

A questão do clima
A Austrália está particularmente em risco de sentir os impactos diretos da alteração climática. Desde 2005, o país vem registrando seus 10 anos mais quentes.

Seja um único furacão, inundação ou incêndio, os cientistas não conseguem atribuir um fenômeno meteorológico isolado à alteração climática, por isso procuram tendências que mostrem como os padrões climáticos mudaram ao longo do tempo. Fromm diz que, até o momento, sua pesquisa não demonstrou essa tendência de forma definitiva, mas ela ainda está em andamento.

No ano passado, a Austrália teve mais tempestades causadas por fogo do que o total dos últimos 20 anos. Como as condições quentes e secas persistem no país, os cientistas esperam que os pirocúmulos continuem a se formar.

“Com a alteração climática, devemos ter incêndios de maiores proporções e, como consequência, pode-se esperar uma maior ocorrência desse tipo de tempestade”, afirma Flanningan. “Minha previsão é que haja um aumento no futuro”.

Em um artigo publicado em julho de 2019, McCarthy e os coautores do estudo constataram que o clima australiano em processo de mudança poderia colocar mais pessoas e habitats em risco de serem afetados por tempestades de fogo.

O que ainda não está claro são os efeitos em longo prazo dessas tempestades. Os cientistas sabem que os pirocúmulos são capazes de propagar o fogo e agravar as condições dos incêndios florestais, mas segundo Fromm, eles também podem bloquear a luz solar em áreas localizadas gerando, assim, um efeito de resfriamento.

A Austrália ainda está no começo de sua temporada de incêndio florestal e os meteorologistas afirmam que os incêndios podem continuar por meses.

Fonte: Sarah Gibbens – National Geographic
Retirado do Site: www,ambientebrasil.com.br
O maior portal de interent de meio ambiente do Brasil

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