Quando falta água na superfície, a solução mais prática é retirá-la do subsolo. Mas uma pesquisa publicada no Geophysical Research Letters demonstrou que pode não ser uma boa ideia — principalmente para cidades construídas em cima ou perto de falhas geológicas. Um estudo indica que bombear água do lençol freático em demasia pode causar terremotos.
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Uma série de tremores foram registrados em setembro de 2013 e julho de 2018 nos arredores do Mar da Galileia, famoso por ter sido o local onde, segundo a narrativa bíblica, Jesus teria caminhado sobre as águas. É o maior lago de Israel, localizado no nordeste do país. Abaixo dele há um grande sistema de falhas que se estende por toda a região do Mar Morto e acomoda o movimento das placas tectônicas africana e arábica.
Há décadas o lago tem sido uma das principais fontes de água doce de Israel. Mas, de uns tempos para cá, a população aumentou e as chuvas diminuíram. Isso fez o nível das águas baixar consideravelmente. Então as autoridades locais passaram a sugerir, nos anos 90, que a população bombeasse água de poços subterrâneos em vez de usar a da superfície. Os geólogos se perguntaram se poderia haver alguma relação entre o fenômeno e os tremores.
A equipe reuniu uma série de informações sobre os terremotos (datas, locais, profundidade e magnitude) e comparou com medidas regulares do aquífero da região. Constatou que, nas duas ocasiões, os tremores foram precedidos por quedas acentuadas no nível da água no subsolo — entre 2007 e 2013, e de 2016 a 2018. Foram tremores fracos, entre 3 e 4 graus, mas serviram para deixar os especialistas em alerta.
Historicamente, as falhas do Mar Morto já provocaram sismos fortíssimos, tendo atingido magnitude de 7 a 8 e vitimado cerca de 230 mil pessoas no ano 1138. Em 1927, um tremor de magnitude 6,25 matou quase 300 pessoas. E o grande problema é que um terremoto costuma puxar o outro. Quando a rocha quebra, pode chacoalhar numa reação em cadeia.
Os pesquisadores descobriram que extrair muita água do lençol freático reduz a carga gravitacional que mantém os dois lados da falha no lugar — deixando-a mais “frouxa”. Antes deste estudo, os cientistas ainda não haviam prestado muita atenção no fenômeno. Já sabiam que fazer o contrário, injetar água nos aquíferos, pode criar terremotos. A água penetra nos poros das rochas, aumenta a pressão e lubrifica as falhas.
Assim elas escorregam e se chocam com maior facilidade. Esse processo é utilizado para quebrar as camadas de rocha e extrair petróleo ou gás natural. Outras regiões do planeta também devem ficar atentas com os resultados da pesquisa, e quem sabe até pegar mais leve na extração de água dos aquíferos. Nos últimos anos, tam crescido a dependência dos poços na Califórnia — e a tão temida falha de San Andreas fica ali do lado.
Fonte: A. J. Oliveira – Super Interessante
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