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sábado, 20 de outubro de 2018

"Sofrimento moral" entre veterinários é extremamente comum: estudo

Por Jéssica Maes

Animais de estimação vivem menos do que nós, humanos (pelo menos na maior parte dos casos). Muitas vezes, acompanhar nossos bichinhos por toda a vida deles e no fim ter que vê-los partir pode ser uma experiência bastante difícil. De acordo com uma nova pesquisa, este pode ser um momento duro também para os veterinários – principalmente quando eles não estão de acordo com as decisões dos donos dos animais.
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De acordo com o estudo, publicado segunda-feira no Journal of Veterinary Internal Medicine e realizado com mais de 800 veterinários americanos, há um “sofrimento moral” comum entre eles. A pesquisa revelou que a maioria deles sente dúvidas éticas pelo menos algumas vezes em relação a coisas que os donos de animais de estimação lhes pedem para fazer, e isso está afetando a saúde mental destes profissionais.

“Estamos na posição nada invejável e realmente difícil de cuidar dos pacientes, talvez por toda a vida, desenvolvendo nossos próprios relacionamentos com esses animais – e depois sendo solicitados a matá-los”, diz a Dra. Lisa Moses, principal autora do estudo e veterinária da Sociedade Médica de Massachusetts para a Prevenção da Crueldade ao Animal – Angell Animal Medical Center e bioeticista na Escola de Medicina de Harvard, ao portal NPR – National Public Radio, dos EUA.

“Às vezes, os donos preferem que seus animais sejam sacrificados, porque não podem ou não querem pagar pelo tratamento. Ou o oposto, quando sabemos em nosso coração que não há esperança de salvar o animal, ou que o animal está sofrendo, e os donos têm um conjunto de crenças que os fazem querer continuar”, diz Virginia Sinnott-Stutzman, também veterinária do Angell Medical Center em entrevista ao portal NPR.

A pesquisa de Moses e seus colegas descobriu que este tipo de angústia é generalizada entre os veterinários: 69% dos participantes disseram que sentiram sofrimento moderado a grave por não poder dar aos animais o que eles achavam ser o tratamento correto. Quase dois terços se incomodaram com pedidos inapropriados de eutanásia.

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Suicídio

Essa angústia entre os profissionais da área pode estar relacionada com outro problema ainda mais grave. Para J. Wesley Boyd, outro autor do estudo e psiquiatra da Cambridge Health Alliance e bioquímico de Harvard, há uma conexão entre as descobertas do estudo e estatísticas assustadoras sobre as taxas de suicídio dos veterinários: “Minha suposição é que as descobertas de nossa pesquisa são definitivamente parte, ou até mesmo a maioria, da razão pela qual os veterinários têm taxas de suicídio acima da média”, aponta.

“Uma pesquisa de mais de 10.000 veterinários dos EUA em 2014 determinou que mais de 1 em cada 6 veterinários pode ter experimentado ideias suicidas e quase 1 em cada 10 pode ter sérios distúrbios psicológicos”, escrevem os pesquisadores em seu estudo.
Segundo a matéria do NPR, Stutzman define sofrimento moral como o sentimento quando o veterinário determina um curso de tratamento ideal, mas é impedido de executá-lo – seja por causa do dinheiro, ou das crenças do proprietário, ou regras sobre “cães que mordem”.
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“O exemplo mais comovente é quando um cão jovem tem uma fratura – portanto, um problema totalmente solucionável, sem risco de vida, mas o dono não quer pagar por uma solução adequada nem ter um cachorro de três pernas, e opta pela eutanásia. Isso é uma coisa muito difícil de passar”, diz ela. A profissional também diz que é particularmente difícil quando os proprietários, envolvidos em sua dor, projetam sua raiva no veterinário. “Assim, neste exemplo”, ela explica, eles podem dizer: “‘Temos que matar nosso cachorro porque você só se importa com o dinheiro’, o que obviamente não é o caso.”

Stutzman endossa o apelo dos autores do estudo para um melhor treinamento para os veterinários em como lidar com o sofrimento moral. “Tudo o que aprendi sobre o enfrentamento veio de mentores e amigos fora da profissão veterinária, e é absolutamente necessário (que isso) faça parte de como ensinamos os veterinários”, alerta.
“Nós nos juntamos a outros pesquisadores da profissão veterinária ao pedir que as raízes do estresse e do pobre bem-estar na comunidade veterinária sejam totalmente exploradas e tratadas por sociedades profissionais”, concluem os pesquisadores no estudo.[NPR, Wiley Online Library]


Fonte: Site www.hypescience.com

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